Cômico e violento, Deadpool cumpre expectativas e inova nas adaptações dos quadrinhos para as telonas

Pedro Girão - A espera foi longa (12 anos, para ser mais preciso), mas Ryan Reynolds finalmente realizou o sonho de trazer o anti-herói Deadpool (cujo nome é Wade Wilson) para as telonas. O caminho foi árduo desde que o ator assinou, em 2004, um contrato com a Fox para interpretar o Mercenário Tagarela: roteiros foram recusados, a ideia de ter um filme de super-herói com censura de 18 anos não foi bem aceita e outras prioridades surgiram nos planos da Fox – sem contar na participação bizarra de Deadpool, interpretado pelo próprio Ryan, em “X-Men Origens: Wolverine”; tudo isso gerou diversos engavetamentos e forçou Reynolds a adiar seu projeto ano após ano.



Porém, a obsessão do ator era tão forte quanto sua persistência e ele, enfim, recebeu carta branca para produzir e interpretar o até então pouco conhecido (por aqueles que não acompanham quadrinhos) Deadpool. A baixa popularidade, aliás, ficou para trás muito antes do filme estrear: a estratégia adotada pela equipe de Marketing do anti-herói, com diversos vídeos promocionais adaptados especialmente para cada país, eventos que possibilitavam a interação de fãs com Reynolds – com fotos, perguntas, ou mesmo apenas para vê-lo de perto falando sobre o filme e seus bastidores – e a autorização de definitivamente não se importar com o linguajar ou atitudes controversas (uma vez que o filme seria para maiores de 18*) possibilitaram que Deadpool se tornasse um viral nas redes sociais em curto tempo.

Fatalmente, a versão nada fiel de Wade Wilson no filme do Wolverine precisou ser completamente esquecida e enterrada para que esta nova película pudesse ser realizada e a essência do personagem fosse transmitida (afinal, como é possível ser conhecido como “tagarela” se nem boca o personagem tinha em “X-Men Origens”?). E assim foi feito. O Deadpool produzido por Ryan está extremamente mais leal aos quadrinhos: seu humor é ácido e sua zoeira não tem limites, o uniforme vermelho está lá também, assim como as velhas e conhecidas katanas; e não poderiam faltar também a pancadaria, os tiros, o sexo e os palavrões, óbvio.

A premissa do filme é simples e no padrão dos longas-metragens típicos de heróis: a mocinha amada pelo herói é capturada pelos vilões e ele precisa salvá-la. E a motivação que Wade encontrou para se tornar o homem sob o uniforme também é clássica: vingança. Mas a diferença notória é que Deadpool, como ele mesmo afirma e reafirma durante o filme, tanto verbalmente quanto por seus atos, não é um herói. Ele não defende os fracos apenas porque é o certo a se fazer, ele os defende se receber dinheiro por isso: um mercenário. E tampouco liga para regras ou boas maneiras. Afinal, quem com mais de 90 mortes confirmadas liga para essas coisas?



E falando em “mocinha”, a atriz brasileira Morena Baccarin dá vida a Vanessa Carlysle, namorada de Wade. Sua personagem, de personalidade forte e com humor bastante parecido com o do protagonista, não se deixa intimidar tão facilmente, porém isso não é o suficiente para evitar que ela seja a dama em perigo que precisa ser resgatada. Mas isso não diminui sua participação na trama; afinal, espera-se que ela ganhe ainda mais destaque como a mutante Copycat em eventuais continuações. E Morena não decepciona; consegue segurar as pontas quando fica em foco e mostra um bom entrosamento com Ryan nas cenas do casal, sejam estas quentes ou não.

Stan Lee também segue trazendo alegria para os fãs com mais uma participação divertida; referências irônicas sobre trabalhos passados de Ryan Reynolds, ou mesmo sobre outros atores, personagens ou filmes da própria Fox, também surgem vez ou outra; e ainda tem cena pós-créditos, tradição nos filmes dos personagens da Marvel. Outra curiosidade sobre o longa é a quebra da quarta parede: Deadpool olha para a câmera e fala com o espectador como se soubesse que tudo aquilo não passa de um filme. O diretor Tim Miller, em entrevista, afirmou que é importante descobrir o limite da interação do anti-herói com o público. A experiência é bastante interessante – e com certeza arranca incontáveis risadas –, porém cria uma zona de segurança exagerada, pois a sensação é a de que Deadpool está sempre no controle da situação, não importa quão complicada ela seja. Isso pode ser melhor explorado nos (prováveis) próximos filmes, especialmente se essa sensação de segurança for quebrada de maneira brusca e chocante.

No fim, Deadpool cumpre tudo aquilo que sua divulgação prometeu: um filme de super-herói para adultos, com ação, sangue, tiradas perspicazes, violência, sexo, nudez, palavrões, uma história de amor e muitas risadas; além, claro, da interação frequente do personagem com quem o assiste. Definitivamente vale a pena assistir e torcer por uma continuação. O filme estreia no Brasil dia 11 de fevereiro.

* Recentemente, o Ministério da Justiça informou que a classificação do filme no Brasil será de 16 anos (e não 18, como era esperado), porém garantiu que o material original não sofrerá nenhum tipo de corte ou censura.

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