Na produção do mundo real o senso comum confunde democracia com liberalismo. O liberalismo defende a democracia burguesa, a ditadura de classe do Capital, a democracia que se baseia no princípio da força, característica central da horda: may the best win, because the winner takes it all (que vença o melhor porque o vencedor leva tudo!) O princípio vai em inglês porque é na língua pátria do imperialismo dominante que a exaltação da psicopatia se faz sonora, ganha força e legitimidade nas mentes colonizadas e “imperializadas”. A horda se faz no princípio “de cada um conforme a operessão (o estado), para cada um conforme o poder (a classe)”. A relação “de cada um, para cada um” chama-se economia. O comunismo consciente (ou científico, como queria Marx) propõe a democracia socialista, a ditadura do proletariado, enquanto transição do princípio “de cada um conforme a sua capacidade, para cada um conforme o seu trabalho” para o princípio “de cada um conforme a sua capacidade, para cada um conforme a sua necessidade”.
No socialismo há política (estado), luta de classe (sociedade) e economia (restrições na relação “de cada um para cada um”). Trata-se de luta de classes, política e economia que apontam na direção da emancipação do trabalho e, portanto, no sentido do fim das classes, da política e da economia. A democracia constituída nesta direção e sentido chama-se democracia socialista. Atenção: não basta se intitular socialista para ser. Se assim fosse não teríamos problemas com François Hollande. Este tipo de “socialista” conhecemos aos magotes em sua versão tupiniquim: Zé Dirceu, Genoíno, Lula, et caterva.
No comunismo não há estado (poder sobre o humano), não há política; há apenas o poder ser humano. Este poder estabelece que as pessoas são livres “apenas” para serem humanas. Nele, ser humano não é uma opção, é uma condição de existência; não é um direito de todos: é um dever de todos. O poder ser humano existe na medida em que oprime a exploração e a opressão. Para que a natureza humana exista e se expanda é necessário que a psicopatia e a malandragem sejam extirpadas da vida em comunidade. A opressão e eliminação da psicopatia não é, e jamais poderá ser, uma figura de linguagem, uma metáfora. Deve ser uma realidade concreta para que a natureza humana se torne também uma realidade concreta. No comunismo consciente os psicopatas e seus amigos, os malandros, são colocados fora da lei e marginalizados do convívio comunista). Como não são humanos, não usufruem dos direitos humanos. No comunismo consciente não há classificação do humano (e, portanto, não há classes nem sociedade); não há restrição entre produção (de cada um conforme a capacidade) e distribuição (para cada um conforme a necessidade), não há economia.
O comunismo é a tendência natural da humanidade. Mais que isto, o comunismo é naturalmente humano. Isto não quer dizer que seja naturalmente orgânico. Para elevar-se a ele o animal homem precisa se humanizar, precisa se educar. Até hoje não foi alcançado em nenhuma parte da terra. Os países que a imprensa burguesa chama de “comunistas” na verdade nunca o foram. Foram, no máximo, socialistas, formações sociais que apontam para o comunismo. Nenhum deles chegou lá e nenhum chegará porque o comunismo não é um assunto de um único país, de uma única coletividade e muito menos a característica de uma pessoa. Ninguém é, individualmente, comunista. Quando uma pessoa se diz comunista esta afirmando uma direção, um sentido de vida, e não a realidade individual sua. Assim como “nenhum homem é uma ilha”, nenhum comunista o é, verdadeiramente, sozinho ou mesmo em grupo ou em partido. Um partido se declara comunista mas nunca o é “em si”. A fórmula “partido comunista” é uma contradição em termos. Se é partido, não é comunista; se é comunista, não é partido. Daí ter sido o anarquismo a primeira forma de organização comunista de luta. Mas o anarquismo se constituiu numa iniciativa orgânica ingênua que abria diretamente a vida dos seus militantes para a sanha capitalista e para os golpes de destruição e aniquilamento do estado burguês. Enquanto forma de organização o anarquismo se mostrou inviável à luta pela emancipação do trabalho. A crítica de Marx à organização anarquista e seu desenvolvimento por Lenin, levou à concepção de partido (partido de quadros, poucos mas bons) que, apesar dos reveses demonstrou ser, historicamente, a única forma de organização que preserva a militância humana do aniquilamento burguês. O partido comunista é, pois, uma contradição em termos necessária cujo maior perigo é a sectarização, a autotransformação em coletivo que se concebe como elite vanguardista acima da condição humana. Contra esta tendência Marx alertava que o comunista não se difere de todos outros lutadores do proletariado a não ser num único ponto: ele luta aqui e agora tendo em vista o objetivo histórico da hegemonia mundial do comunismo consciente (ou científico). Marx chamava de científico o comunismo que se diferencia do comunismo primitivo, centrado na religião, e de sua vertente moderna, o comunismo utópico, que também se baseia na fé e na crença abstrata do humano. A utopia é, também, um comunismo religioso, primitivo e inevitavelmente desarma a humanidade frente aos ataques da psicopata.
A noção de ciência e progresso retroagiu para o positivismo, para o elogio da ciência apropriada pelo Capital que se reduz à condição de arma de combate contra o trabalho humano. Este engano nos leva, atualmente, a substituir o conceito ciência por cons-ciência e a expressão comunismo científico porcomunismo consciente. O conteúdo ou significado da formula comunismo consciente é o mesmo que Marx propunha para Comunismo científico. É a maldita guerra de palavras imposta pela guerra de classes que os psicopata travam contra a humanidade. Não há como fugir dela, como abstrai-la.
O capitalismo é a tendência naturalmente orgânica-animal. Para que a tendência animalesca prevaleça sobre a tendência humana, é necessário que a matéria humana, aquela que é simultaneamente produto do trabalho e sua condição de existência, seja roubada dos seus produtores, a espécie homo sapiens, a humanidade ordenada em comunidade universal. A agitação e propaganda voltada para a programação da psíque são os elementos que os psicopatas dispõem para desviar a espécie da sua naturalidade humana. Contam para isto com a propriedade de classe dos meios produção em geral e, particularmente, dos meios de comunicação e informatização tecnologizada eletronicamente em escala global. Graças a eles promovem o roubo planetário da materialidade humana, o mundo real humano, substituindo-o pela materialidade “virtual”, a falsificação generalizada do conhecimento ajustada à agitação e propaganda burguesa que exalta o instinto e a horda em detrimento da comunidade, da civilização e da cultura, tidos como “mal estar”.
O Capital se apropria privadamente do mundo real e aprisiona a humanidade no “mundo virtual”; Busca roubar a materialidade do trabalho humano como forma de se apropriar do próprio trabalho humano. A matéria humana é produzida pelo trabalho, única fonte do valor que o Capital dispõe para se reproduzir de forma ampliada. Esta é a principal frente da luta de classes dos nossos dias. Devemos lutar, sem trégua, sem conciliação, sem ilusão, contra o roubo capitalista da matéria humana. Se e quando o liberalismo lograr este objetivo, será o fim da espécie.
Seres humanos de todo o mundo, uni-vos!
São Paulo, fevereiro de 2014
Herny Armeiro
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