Curadora alemã, Ruth Noack reúne pinturas de Indiano Carioca em exposição no Coaty

Artista popular que costumava vender suas obras nos arcos da Igreja do Bonfim, o pintor Indiano Carioca cria coloridas telas sobre madeira, com símbolos abstratos, de beleza expressiva. Muitos destes quadros foram adquiridos pelo Acervo da Laje, de cuja coleção a curadora alemã Ruth Noack, em parceria com o paulista radicado na Bahia Felix Toro, fez uma seleção agora exposta no Espaço Coaty, em mostra que terá sua última visita, feita de forma guiada, nesta quarta-feira, 19 de abril, às 16h, com entrada franca. O projeto é uma correalização do Goethe-Institut Salvador-Bahia, que acolheu Noack como participante do seu Programa de Residência Artística Vila Sul, com o próprio Acervo da Laje, e conta com apoio da Fundação Gregório de Mattos.Atualmente residindo em Jauá, Indiano já não produz no mesmo ritmo, mas sempre foi capaz de explicar os sentidos de seus epigramas enigmáticos: uns indicam sua proteção e forças espirituais; outros contêm textos com linguagem particular, unindo o português a elementos pictóricos. Seres encantados, santos, orixás, paisagens e mensagens estão presentes. A milhares de soteropolitanos que fazem do Bonfim, Ribeira, Plataforma e bairros adjacentes o centro de sua cidade, a figura deste senhor é conhecida e seu trabalho integra a rotina. Todo este contexto poderia ser suficiente para sua obra representar a arte popular de Salvador, mas ele é mais que isso: a assinatura autoral de sua criação é de grande solidez e talento.
Os curadores Ruth Noack e Felix Toro montaram a exposição a partir de vivências e pesquisas no Acervo da Laje, núcleo criado e dirigido por José Eduardo Ferreira Santos, reunindo as obras sem pretender transpor os estipulados limites da produção popular e da arte institucionalizada, nem mesmo para oficializar o que é legítimo em si. A escolha do Coaty como local da mostra é simbólica: na Praça Thomé de Souza, entre a Prefeitura e a Igreja da Misericórdia, o espaço, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi na década de 1980 e administrado pela gestão municipal, é também um histórico ambiente comunitário e de contracultura, onde iniciativas independentes e alternativas têm voltado a ser desenvolvidas.

RUTH NOACK E VILA SUL – Internacionalmente renomada curadora alemã, Ruth Noack é principalmente conhecida por sua curadoria da Documenta 12 (2007), junto com Roger M. Buergel. Sua prática remonta aos anos 1990, quando ela propôs pela primeira vez que exposições em si podem ser instrumentos de pesquisa e que a ação curatorial é uma forma de produção de conhecimento que deve ser considerada em seus próprios termos. Formada como artista e historiadora da arte, também embarcou na carreira de professora a partir dos anos 2000, o que se entrecruzou com sua escrita e criação de exposições, gerando uma produção amplamente interdisciplinar. Desde 2015, é responsável por uma das trajetórias da DAI Roaming Academy, um programa de mestrado em estudos de arte, crítica e curadoria que recebeu o status de excelência do Ministério da Educação da Holanda.
Ruth esteve em Salvador de 29 de janeiro a 26 de março como convidada do Programa de Residência Artística Vila Sul do Goethe-Institut Salvador-Bahia, que foi oficialmente inaugurado em novembro de 2016 como o terceiro no âmbito geral das 159 unidades do Goethe-Institut existentes no planeta, e primeiro e único da rede no “sul global”, abaixo da Linha do Equador. Sua proposta é de fortalecer interlocuções entre o Brasil e demais países do hemisfério Sul a partir da presença de artistas de todo o mundo.
Site: www.goethe.de/bahia

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