Por Robert Reiter |
Além desses desafios globais, o Brasil também enfrenta questões particulares que afetam a logística, em especial durante a alta temporada. Um dos principais fatores é o congestionamento crônico nos principais portos do país, como Santos e Paranaguá. Esse congestionamento pode levar a atrasos na movimentação de mercadorias, o que pode gerar um aumento do tempo de espera dos navios. Com a alta temporada chegando mais cedo, esses problemas se agravam, pois o aumento do volume de embarques eleva ainda mais a pressão sobre a infraestrutura portuária. Para mitigar esses desafios, é crucial que os varejistas brasileiros planejem com antecedência e considerem a possibilidade de redirecionar suas cargas para portos menos sobrecarregados ou até mesmo investir em opções de transporte intermodal. A colaboração próxima com fornecedores de logística que tenham a capacidade de ajustar rotas pode ser decisiva para garantir que os produtos cheguem ao mercado no momento certo.
O mercado de transporte aéreo também já começa a ficar sobrecarregado com os volumes de e-commerce saindo da região Ásia-Pacífico, o que complica o planejamento de quem está atrasado em recompor seus estoques para as festas de final de ano.
O que fazer para ajudar o varejista que perdeu esse movimento de antecipação dos embarques da alta temporada? No passado, seria mais difícil atender esses clientes. Mas, desde a pandemia, a indústria de cadeia de abastecimento se adaptou para lidar com interrupções nos fluxos comerciais. É provável que os fornecedores de logística implementem planos de contingência e lancem mão de soluções criativas para trazer as mercadorias para o local onde serão adquiridas. Exemplos disso incluem redirecionar cargas por diferentes portos e mixar modos de transporte – como marítimo e aéreo – para evitar áreas de alto risco ou gargalos.
Outra vantagem é que a tecnologia avançou e mais fornecedores de logística podem oferecer visibilidade sobre o fluxo de cargas e eventos, permitindo reações em tempo real. A combinação entre IA e análise de dados está revolucionando o cálculo de tempo de chegada dos navios, considerando uma gama mais ampla de variáveis, desde condições meteorológicas até o desempenho do veículo, para fornecer previsões mais precisas que apoiam o planejamento. Isso favorece particularmente aqueles varejistas que disponibilizam seus próprios dados para seus fornecedores. Trabalhar com parceiros que oferecem uma solução de logística de ponta a ponta e que possuem tecnologia avançada pode permitir adaptações para recompor estoques mais facilmente.
Em último caso, talvez o varejista tenha que alocar orçamento para fretes premium. Para os produtos mais demandados e os bens de alto valor, é preciso minimizar o risco de falta de estoque utilizando opções de transporte que ofereçam mais capacidade e rápidos tempos de trânsito. Serviços intermodais, por exemplo, podem oferecer reduções significativas no trajeto e, em alguns casos, já ter espaço garantido reservado com transportadoras aéreas e marítimas. O LCL (carga menor que o contêiner), embora mais caro do que os contêineres completos, frequentemente têm prioridade com os transportadores marítimos.
Talvez a notícia mais tranquilizadora de todas seja que, embora a alta temporada tenha chegado mais cedo em 2024, a cadeia de suprimentos está mais bem posicionada do que nunca para lidar com o inesperado. Ainda há oportunidade para agir e garantir que os produtos estejam disponíveis para os clientes. Neste cenário, a chave para o sucesso será a capacidade de se adaptar rapidamente e explorar novas soluções. Quem conseguir manter uma abordagem flexível e estratégica, aproveitando ao máximo a tecnologia e os recursos disponíveis, estará melhor preparado para superar as dificuldades e atender à demanda. Ao enfrentar esses desafios com criatividade e resiliência, não apenas atenderão às expectativas dos clientes, mas também fortalecerão sua posição no mercado para o futuro.
Robert Reiter é CEO da DHL Global Forwarding dos Estados Unidos
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