Manifestações de estudantes e professores contra o governo Bolsonaro enchem as avenidas do Brasil


Portugal Digital com agências - Convocados por entidades estudantis, associações e sindicatos, milhares de estudantes e trabalhadores de instituições de ensino do Brasil saíram às ruas das principais cidades do país para protestarem contra cortes nos orçamentos das universidades e institutos federais.Os atos também criticaram a possibilidade de extinção da vinculação constitucional que assegura recursos para o setor e a proposta de reforma da Previdência.
Em São Paulo, os manifestantes tomaram completamente o vão-livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, região central da capital. Os dois sentidos da via e as calçadas também foram ocupados. Na multidão, muitos estudantes, além de professores universitários, estaduais e municipais. Nas universidades públicas houve chamado para paralisar as atividades. Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), não houve aula em nenhuma das faculdades, apenas as áreas essenciais de manutenção funcionaram. Na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Estadual Paulista (Unesp), a decisão de assistir às aulas ou ir ao protesto ficou a cargo dos estudantes.
O Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp) divulgou nota em apoio à manifestação. O comunicado destaca que as três instituições respondem “por mais de 35% da produção científica nacional e são responsáveis por 35% dos programas de pós-graduação de excelência no país”.
De acordo com o conselho, no Brasil e em países desenvolvidos a pesquisa é financiada majoritariamente pelos governos. “Interromper o fluxo de recursos para estas instituições constitui um equívoco estratégico que impedirá o país de enfrentar e resolver os grandes desafios sociais e econômicos do Brasil.”
No Rio de Janeiro, os manifestantes se concentraram na Igreja da Candelária no início da tarde e, às 17h50, iniciaram caminhada pela Avenida Presidente Vargas com destino à Central do Brasil.
Todas as 16 faixas de rolamento da avenida foram ocupadas pelos manifestantes e fechadas ao trânsito de veículos, que foram desviados por ruas próximas, causando um grande congestionamento. O protesto reuniu estudantes e ativistas de todas as idades, desde alunos do ensino fundamental, estudantes do ensino médio e universitários, até aposentados, além de professores e trabalhadores da educação.
O policiamento se posicionou de forma discreta, sem presença ostensiva entre os manifestantes e distante do carro de som. Os manifestantes seguravam faixas e cartazes com frases contra o bloqueio de verbas para o ensino e em defesa da educação.
Em Curitiba, manifestantes se concentraram na Praça Santos Andrade, em frente à Universidade Federal do Paraná, na região central da cidade. Dali, seguiram em direção à sede da prefeitura. No caminho, alguns participantes do ato abordaram pedestres e trabalhadores do comércio para explicar as razões da manifestação.Representantes do movimento entregaram a deputados estaduais um documento com o posicionamento do Fórum Popular de Educação do Paraná (Fepe-PR) sobre o corte de recursos da educação.
Muitos milhares de estudantes se concentraram no Largo do Campo Grande, no centro de Salvador (Bahia), de onde saíram em caminhada com destino à Praça Castro Alves, distante cerca de 1,5 quilômetro.
Na capital federal, Brasília, os manifestantes se concentraram em frente ao Museu da República, na Esplanada dos Ministérios. Dali, seguiram em direção ao Congresso Nacional, portando faixas e cartazes contra o contingenciamento de 3,4% das chamadas despesas discricionárias, ou seja, aquelas não obrigatórias, que o governo pode ou não executar, e que incluem despesas de custeio e investimento. Do alto do carro de som que acompanha a marcha, manifestantes discursam em favor de mais investimentos nas universidades públicas e sobre o risco de o corte de verbas inviabilizar as pesquisas desenvolvidas nos campus acadêmicos.
Bolsonaro chama manifestantes de “idiotas” e “imbecis”
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, do PSL, insultou, nesta quarta-feira (15), muitos milhares de estudantes, professores e trabalhadores da educação que participaram dos protestos.

BOLSONARO EM DALLAS FOTO: MARCOS CORRÊA/PR

Em declarações aos jornalistas em Dallas, no Texas (EUA), onde se deslocou em visita para receber uma distinção da Câmara de Comércio EUA-Brasil, Bolsonaro classificou os manifestantes como “idiotas úteis” e “massa de manobra”, causando um movimento de repúdio que se espalha pelas redes sociais.
Bolsonaro disse aos jornalistas que não gostaria de contingenciar verbas, em especial da educação, mas que o bloqueio é necessário e que os manifestantes que protestam contra isso no Brasil são “uns idiotas úteis, uns imbecis”.
“É natural, é natural. Agora… a maioria ali é militante. É militante. Não tem nada na cabeça. Se perguntar 7 x 8 não sabe. Se perguntar a fórmula da água, não sabe. Não sabe nada. São uns idiotas úteis, uns imbecis que estão sendo utilizados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades federais do Brasil”, afirmou Bolsonaro, noticiou a TV Globo.
No tom truculento que já lhe é peculiar, o presidente da República justificou os cortes com a situação econômica e financeira do país, que, contrariamente às promessas de campanha eleitoral, continua em crise.
“Eu peguei um Brasil destruído economicamente também. Então as arrecadações não eram aquelas previstas de quem fez o orçamento no corrente ano e se não houver contingenciamento, eu simplesmente entro de encontro, né, à lei de responsabilidade fiscal? Então, este mês não tem dinheiro. É o que qualquer um faz. Não tem, tem que contingenciar. Agora gostaria que nada fosse contingenciado. Gostaria, em especial, educação”, disse Bolsonaro, em Dallas, citado pelo portal G1.
E acrescentou: “Agora educação também está deixando muito a desejar no Brasil. Você pega as provas do Pisa, que eu peguei agora, de três em três anos, de 2000 pra cá, cada vez mais ladeira abaixo”. “A garotada com 15 anos de idade, da nona série, 70% não sabe a regra de três simples. Qual o futuro dessas pessoas? Qual é o futuro dessas pessoas? Falam porque tão desempregados 14 milhões, sim, mas parte deles não tem qualquer qualificação porque esse cuidado não teve nas administrações do PT ao longo de 13 anos.”
Mourão diz que manifestações fazem parte do sistema democrático


O PRESIDENTE EM EXERCICIO, GENERAL, HAMILTON MOURÃO, FALA À IMPRENSA

Enquanto, o presidente Jair Bolsonaro insultava, nos Estados Unidos, os que saíram às ruas no Brasil, o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, presidente em exercício na ausência de Bolsonaro, disse que o ministro da Educação Weintraub, teria oportunidade, na tarde de hoje, de explicar na Câmara dos Deputados o que é o “contingenciamento” e por que foi adotado.
Sobre as manifestações, Mourão disse que esse tipo de mobilização faz parte do sistema democrático. “Desde que seja pacífica, ordeira e não limite o direito de ir e vir das outras pessoas, é uma forma que aqueles que se sentem inconformados têm de apresentar o seu protesto, então, [é] normal”, disse.
“Nós temos falhado na nossa comunicação e agora é uma oportunidade, lá dentro do Congresso, que o ministro vai ter para explicar isso tudo”, disse ao deixar seu gabinete nesta manhã, no Palácio do Planalto.

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